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Pesquisadores catarinenses desenvolvem teste inédito para detectar Covid-19

  • Rodolfo Espínola/Agência AL - Pesquisadores de Lages desenvolveu um peptídeo, uma molécula que reconhece o vírus e se liga a ele

Vem da Serra catarinense mais um exemplo de superação em tempos de pandemia de Covid-19. Pesquisadores do Centro de Ciências Agroveterinárias (CAV), da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), em Lages, desenvolveram um teste molecular inédito para detecção do novo coronavírus.

As pesquisas foram realizadas pelos alunos do Programa de Pós-Graduação em Bioquímica e Biologia Molecular da Udesc, ao lado dos professores Maria de Lourdes de Magalhães e Gustavo Felippe da Silva. O grupo, formado por cinco alunos de pós-graduação, mestrado e doutorado, trabalhando de segunda a segunda, muitas vezes o dia inteiro, desenvolveu o peptídeo, uma molécula que reconhece o vírus e se liga a ele. O desenvolvimento das estruturas químicas que dão cor às moléculas ficou a cargo das instituições parceiras do projeto.

A força-tarefa incluiu uma equipe formada por especialistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e do Instituto Senai de Inovação Química Verde. A iniciativa deu resultados positivos que estão sendo confirmados e ampliados por pesquisadores da Universidade de San Diego, na Califórnia (EUA), liderados pelo professor indiano Parker Rey.

Nos Estados Unidos, a proteína criada pelos pesquisadores catarinenses está sendo testada para fins de diagnóstico e tratamento. "Esse trabalho desenvolvido em Lages foi tão bem sucedido que existe um grupo na Califórnia, que é um dos mais bem pagos nos Estados Unidos para desenvolvimento de tecnologias contra o vírus, que se interessou por esta pesquisa catarinense. Mandamos a proteína para lá e eles estão usando ela para criar uma série de testes, ensaios rápidos, ensaios de neutralização do vírus", explicou o professor Gustavo, coordenador do Programa de Pós-graduação Multicêntrico de Bioquímica e Biologia Molecular do CAV/Udesc.

De acordo com a professora Maria de Lourdes, os estudos ainda são preliminares. "A gente está provando o princípio de que a molécula, por ser muito parecida com o receptor, pode se ligar ao vírus que identifica a presença viral. Como ela faz essa ligação, compete com a ligação da célula humana, ela tem grande potencial para uso para inibição da infecção viral. São dados preliminares. Uma vez que se mostrem promissores, será uma tecnologia muito interessante, porque é uma proteína muito barata, que pode ser usada em diversas tecnologias. A forma final ainda precisa ser desenvolvida."

A vantagem do novo teste é que o material coletado dos pacientes não precisa passar por várias análises. Quando as hastes contendo o vírus são mergulhadas em tubos onde há moléculas, a resposta é imediata. "É um peptídeo totalmente nacional, com produção barata, e teremos a possibilidade de realizar testes em massa."

Pesquisa conta com força-tarefa nacional
O projeto que resultou na descoberta do teste promissor iniciou com a startup Scienco Biotech, criada dentro do ambiente de inovação da Udesc Lages. A startup foi contemplada em abril de 2021 com recursos do Edital de Inovação para a Indústria, do Senai, na "Missão contra a Covid-19".
Baseado em trabalhos de outros pesquisadores, o grupo de Lages conseguiu projetar uma proteína mais simples que a proteína humana, "que é uma estrutura gigantesca e complexa mesmo em nível celular", de acordo com o professor Gustavo. "Nós conseguimos criar uma estrutura menor, mais compacta, que consegue fazer a mesma ligação com o vírus de maneira mais simples."

"A gente imitou uma proteína humana, que é o receptor do vírus, para entrar na célula e usou ela como ferramenta de detecção. Ela se liga tão bem no vírus quanto a própria proteína humana, que é o alvo do vírus", complementou. A ideia era utilizar uma proteína menor, mais simples e possível de fabricar no laboratório, por meio da tecnologia de DNA recombinante. "A gente usa uma bactéria, manipula o genoma e ela acaba produzindo essa proteína em nosso favor, e depois a gente consegue separar essa proteína e testar em laboratórios", detalhou o professor.

Universidade de San Diego aperfeiçoa os estudos
O professor Gustavo Felippe da Silva ressaltou que a proteína desenvolvida em Lages está sendo testada em várias possibilidades.  No momento, os pesquisadores da Califórnia estão validando um método de interferência que se chama ensaio de neutralização. Para o professor, as possibilidades são ilimitadas, podendo a proteína ser até um inibidor do vírus. "É uma molécula modelo que serve de controle de inibição do vírus. Além desta possibilidade, ela pode ser um marcador do vírus, pode ser usada como um agente diagnóstico da partícula viral", relatou.

"Se tenho uma amostra de saliva ou de uma secreção humana que tem o vírus, com essa proteína posso utilizar um reagente que dê cor, identificando a conexão com o vírus. Ela é muito específica. Se o vírus estiver lá, consigo identificar ela de alguma maneira", complementou o professor.

O coordenador salientou que todo o trabalho de base de desenvolvimento da proteína foi realizado em Lages e, agora, com a tecnologia e os recursos da Universidade de San Diego  haverá avanços em outros níveis. "Estes experimentos custam muito dinheiro, e eles tem recursos para isso."

Todas as pesquisas serão publicadas em revistas científicas reconhecidas internacionalmente. "Os estudos nunca terminam. A nossa hipótese é de que ela vai funcionar para todas as variantes, porque o vírus precisa reconhecer a proteína humana para invadir a célula. Como a gente imita a proteína humana, então conseguiremos enganar todas as variantes", projetou o professor.

Mais investimentos em pesquisa
Apesar do baixo investimento em pesquisas no país, o Brasil vem despontando mundialmente com inovações em vários setores, inclusive no combate à pandemia de Covid-19. Na opinião da professora Maria de Lourdes Magalhães, o Brasil tem pesquisadores de ponta, mas necessita de verbas para pesquisa, e o montante de investimentos ainda é muito pequeno, em comparação com outros países. Fazer ciência no Brasil é muito desafiador porque é necessário importar insumos e tecnologias que custam caro. "Precisamos fomentar a ciência para que ela seja desenvolvida aqui. Estamos formando recursos humanos capacitados e eles estão indo para outros países."

Sobre a pesquisa desenvolvida em Lages, ela contou que a equipe está buscando a patente dea tecnologia. "A Udesc, com a startup Scienco Biotech, com o Senai, foram os atores que desenvolveram a tecnologia. Assim que tivermos a patente faremos a publicação científica e o próximo passo será a produção desta proteína em nível industrial para utilização no diagnóstico in vitro e outras aplicabilidades. Dependendo do potencial de inibição da infecção viral, a gente vai tentar outras parcerias para utilização dela para fins profiláticos [prevenção de doenças]."

A professora revelou que a expectativa da equipe para este ano é enviar os alunos de pós-graduação da Udesc ligados à pesquisa para darem continuidade aos trabalhos nos Estados Unidos, de modo que tenham acesso a novas tecnologias. "Essa troca de experiências é importante, nós dominamos uma parte e eles outras. A ideia é que estes alunos sejam treinados e depois tragam esse conhecimento para o Brasil."

Uma das vantagens da proteína desenvolvida pela equipe é o baixo custo, conforme a professora. Esse insumo poderá ser utilizado tanto para o diagnóstico como, potencialmente, para combate da infecção viral.  "São dados ainda preliminares. Uma vez que se mostrem promissores, será uma tecnologia muito interessante, porque é uma proteína muito barata, que poderá ser utilizada em diversas tecnologias. A forma final ainda precisa ser desenvolvida."

Mestrando relata experiência de participar da pesquisa
O aluno de mestrado Leonardo Antônio Fernandes, 26 anos, natural de Laguna, não esconde a satisfação de ter participado do desenvolvimento do teste molecular inédito para diagnóstico do vírus Covid-19 realizado por pesquisadores do CAV/Udesc.

Ele foi um dos cinco alunos que participaram da pesquisa. "Foi desafiador. Durante toda a graduação fiquei trabalhando no laboratório em pesquisas, sempre com o objetivo de devolver à sociedade o que a universidade investe em nós." O estudante começou a trabalhar com o coronavírus em 2020, como projeto de mestrado.

Foram oito meses de pesquisas intensas. "Começamos em março, foi um período intenso no laboratório, viramos turno na universidade, realizando experimentos até o começo de dezembro para conseguir entregar o máximo possível de resultados. Os resultados desenvolvidos em 2020 serviram de embasamento para o trabalho que continuamos a desenvolver em 2021, que foi nosso projeto de mestrado", explicou o pesquisador.

"Ficamos empolgados com os resultados, felizes, todo aquele trabalho intenso dando frutos, possibilitando desenvolvimento de novas ferramentas, tanto em nível molecular quanto para outras formas de intervenção na pandemia", relatou.

O estudante explicou que, normalmente, as pessoas veem o veterinário como sendo um profissional da área de saúde animal, mas que na realidade o veterinário estuda a saúde como um todo. A pesquisa de saúde pública na área de zoonoses, na opinião dele, é uma forma de contribuir para o equilíbrio das espécies.

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